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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sobre o amigo Saulo di Tarso.




Trabalhei com o Saulo di Tarso em diversas oportunidades sempre atestando a seriedadedo do seu trabalho. Um amigo... um "bem" ministrado pela natureza especial do artista de preservar o seu espírito nas margens do ateliê, cuja a luta (por que não?) reside numa certa fluidez na sociedade justamente pela qualidade da imagem. A imagem alcançada pelos artistas são sonhos crus derramados no coração das pessoas. Antes de ser curador e programar mostras de Artes Plásticas em todo o Brasil, principalmente em São Paulo, ele era (e ainda é) um grande desenhista. Apaixonado por litografia e pela história da arte em suas diversas fatias no espiríto, estou certo que, intímamente, ele queria na verdade é se infurnar no ateliê e se afogar de trabalhar sua imagem germinada sempre pelo CAOS, pela ferrovia do branco e do preto. Dois corpos em movimento serpenteando o planaltocom os olhos observando os móveis físicos e mentais do artista, alcançando os sonhos nos poros das pedras litográficas e indo por pressão diretamente no papel. Talvez seja esta pressão que o fez, de modo análogo, ir para a atividade visual da curadoria e da montagem de exposições. A energia de combate como uma pressão estancada por hora no ateliê para ministrar uma atividade política de arte - desenho e expressão visual no espaço político da cidade, sob diferentes contextos absolutamente de peito aberto. Em inúmeras oportunidades eu o vi discutir voluntáriamente (seja em palestras ou nos ateliês livres arriscando o seu próprio cargo inclusive) por melhores condições para o artista trabalhar, produzir e expor com dignidade nas instituições públicas. O público por hora é o seu "arpão" representando no modo de operar em exposições destinadas a refletir profundamente a arte brasileira, principalmente sobre o desenho e a gravura, um modo franco de criar diálogos promissores. Uma sua causa ganha pela arte, pela vida dedicada aos ateliês. O Saulo sempre almejou "o ateliê" como uma célula de conhecimento cruzado, rápido, dinâmico e livre para o mundo onde o espaço era discutido enquanto realidade prática do país. Longe de uma erudição estéril mas de uma solução pautada na história dos artistas que produziram no Brasil suas imagens a partir da natureza econômica e almejaram uma natureza possível de ser mostrada enquanto fantástica e absolutamente real, ligando um artista ao outro, um jovem a um mestre e vice versa por ateliês livres, por amor a prática e ao conhecimento do dia a dia em contato com a matéria, realizando com suas mostras um intercâmbo importante no tempo. Durante a mostra "Mário Gruber e a Metafísica dos Planos" (citando apenas uma das dezenas de mostras que realizou) Saulo di Tarso fez uma das maiores exposições de gravura no Memorial da América Latina que eu já vi. Pude participar com isso ao seu convite, ao lado de um dos maiores gravadores que o Brasil já produziu e que hoje infelizmente está um pouco esquecido... mas absolutamente vivo na alma de cada uma das pessoas que estiveram na exposição observando, além de espampas em água-forte, ponta-seca, água-tinta sob um requinte ímpar; uma reunião de artistas mais novos que circulavam sem saber ao seu redor. Eu era um deles, comovido pelas gravuras em pequenos formatos do Mário, cuja a exposição no Instituto Moreira Salles "Dois Gravadores Paulistas" reunindo no mesmo espaço Evandro Carlos Jardim e Mário Gruber marcou os meus anos de formação em 1998 - 1999. Quase dez anos depois, eu estava na mesma sala que ele na Galeria Marta Traba apoiado neste mestre, cuja abranjência "por notório saber", ou seja, pela simples e sofisticada experiência de ateliê (sem mestrados ou doutorados como válvulas obrigatórias para o mercado de trabalho) se dispôs a conhecer o mundo prático do artista, enquanto célula especial dentro de uma sociedade. Enquanto guia, enquanto maneira de ser empunhando o cetro da imagem bombeada pela natureza de uma experiência, assim eu via a Exposição do Mário Gruber como uma coisa difícil de ser digerida exatamente pela imensa qualidade manifestada na curiosidade dele frente ao enigma da gravura e a sua extensa produção, como uma Rosa dos Ventos indicando o passado, o presente e o futuro para a arte brasileira. Saulo di Tarso soube desenhar o espírito deste velho gravador e incluir, em toda a capital, uma maneira de pensar livremente um saber apoiado na gravação e na solidão das matrizes como carimbos de um mundo interior, em choque construtivo com a luz, com as pessoas de modo geral. Se eu posso definir o trabalho e a seriedade das propostas feitas para a cidade de São Paulo e recentemente para Santo André, eu diria que a exposição do Mário Gruber na Galeria Marta Traba foi um presente para a arte brasileira e especialmente para os novos artistas. Uma emoção difícil de ser descrita por que ela foi feita pelo trabalho e pelo estudo de uma pessoa, de um artista que assumiu de fato responsabilidades irritantes de carregar por que está (de humor) nas esferas das atitudes sinceras. Acho que o Saulo encontra-se sozinho como um ponto de nanquim derramado sobre uma folha de papel. Aliás, de certa maneira como todos nós. Um espelho deste mundo, uma esfera.... uma oca... a dimensão de um círculo interrompido pelas poucas serdas de um pincel. Algo incompleto por realizar em si um dever, uma espécie rara de honestidade em busca de uma oportunidade de mostrar verdadeiramente a sua cor. A cor preta de uma assinatura.
Ulysses Bôscolo, março de 2009.

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