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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Exposição O Tear Castanho de Eduardo Ver no Atelier Piratininga!


















































O Tear do Céu e do Inferno.
Nas imagens do artista Eduardo Ver não há descrença no homem e na mulher como seres divinos. Para ele a arte da xilogravura é uma poção mágica. Em cada figura gravada os aspectos masculinos e femininos estão unidos aos deuses em uma precisão fora do comum. Através da gravura podemos ler a sua imaginação como uma escrita de conteúdo universal. A imagem é literatura e a escrita, o entalhe.
Não se enganem com os personagens felizes e aparentemente ingênuos que não raro, levam meses para ficarem prontos. Podemos observar com atenção a reunião de símbolos místicos na posse imaginária das ilustrações dos poemas de cordel. Na máquina do tempo da imagem impressa posso observar a animação que sequer passou pela cabeça do artista como os desenhos das grandes estelas negras (pedras com inscrições), do rei Assurnasirpal II (c. 883-859 a.C) da Assíria relatando as campanhas de guerra dos soldados em frente a uma fortaleza perdida no deserto. A escrita figurada narra a vitória do rei, mostrando inclusive os corpos caindo da muralha como folhas dos galhos de uma árvore no outono. A linguagem dos olhos do sol manteve firme o espírito da matéria como informação, na arte do planejamento entre as sombras, revelando a luz. Signos vivos da passagem humana pelo mundo são pronunciadas sem nenhuma palavra além do leite do silêncio e do espanto revelados pela íris. Morte e vida, sofrimento e alívio são batalhas na lua entre as manchas do eclipse que travamos diariamente em todos os tempos. Estão nas tábuas da lei do Velho e do Novo Testamento, da Torá e do Alcorão, entre outros livros sagrados. O homem sente-se como um Deus perante outros homens gerando sorvedouros poderosos como a religião. A religião apresenta sua cartela de histórias na nascente das montanhas, para serem manuscritas em pedra ou madeira, papiro e pergaminho. Uma escrita de orações povoadas de analogias com as nuvens e a poeira da terra: legiões em curso: marcha. O papel como veículo de repouso para as imagens entre as forças que se movimentam na artilharia da batalha (real ou imaginária) é o berço da gráfica contemporânea.
As xilogravuras de Eduardo Ver apresentam esta característica atemporal na mobilidade da luz ora na matriz, ora no papel. Divididas entre o bem e o mal (a lança e a queda); a vida e a morte nos contos populares ou no estudo da geometria sagrada das igrejas, indo dos terreiros de Candomblé a liturgia Católica, o artista descobriu aos poucos como cortar seguindo estudos prévios feitos a lápis como se estivesse cinzelando um bloco de pedra, tentando descobrir o afluente de uma rachadura. Suas histórias são batizadas nos leitos da madeira de fio ou de topo. A ascensão de um anjo nas costas de um cavaleiro ou um casal fazendo amor no papel japonês forma um vitral curioso dos prazeres de nossa imaginação. Suas imagens são o próprio arco da dualidade: uma nascendo em virtude da outra.
Da fossa aberta pela goiva salta um demônio com três chifres e seis rabos espetando com um tridente o cu do cavalo alado do Senhor! É assim o céu e o inferno no tear das imagens de Eduardo Ver. As xilogravuras parecem ser ditadas por um cão que manipula suas mãos, disputando a posse das lâminas além dos limites da paciência. A risada do artista numa tarde de verão é a prova de sua vitória.
Nas cores da lombada do livro dos mortos o poeta diz o que é verdadeiro rindo no céu como se estivesse no boteco do inferno, folheando um cordel bêbado de felicidade.

A exposição do artista será inaugurada neste sábado, dia 20 de novembro às 17h no Atelier Piratininga: r. Fradique Coutinho 934, em frente a Livraria da Vila. Para mais informações, por favor acessem http:atelier piratininga.blogspot.com ou liguem para 2373 0224.